Para quem já gostava de Arcade Fire antes de 2010, o The Suburbs veio quase como uma imensa decepção. Nós não conseguíamos ver como esse álbum pôde ter ido lançado pala mesma banda responsável por maravilhas musicais, como o Funeral e o Neon Bible. Não acreditamos em como esse álbum foi bem criticado, era inconcebível que Arcade Fire tinha se tornado naquilo, naquele mísero CD. Por outro lado, e ao mesmo tempo, a banda ganhava cada vez mais seu espaço, alcançando novos ouvintes e se fortalecendo dentro da música.
Pois eu digo que nós, fãs antigos desse grupo musical, fizemos uma baita injustiça! Se me perguntarem qual dos álbuns, Funeral, Neon Bible (os dois primeiros CDs do Arcade) ou The Suburbs, eu prontamente responderei que o The Suburbs é o que menos me agrada, mas não é justo dizer que esse álbum não é tão bom quanto os dois anteriores. Não foi nada injusto a banda ter sido reconhecida por The Suburbs e o álbum ter ganhado tantos prêmios e críticas positivas. (Alias, nessas premiações e nessas críticas, o que menos acontece é "justiça", mas em 2010 e 2011 foi diferente, com Arcade Fire ganhando imenso destaque). O que acontece é que quando se acostuma com o nível de Funeral, álbum de estreia da banda e um dos melhores álbuns da década 00s (posição #2 aqui), e também com Neon Bible (pessoalmente, o meu favorito desses canadenses), começa a se criar uma expectativa muito, muito superior a que qualquer banda tem capacidade de atender com frequência.
Mas vá lá, vamos aos aspectos do álbum! Contando com nada menos que 16 músicas, um número relativamente grande, The Suburbs tem uma pegada extremamente nostálgica, que tenta fazer o ouvinte voltar à origem da sua infância e adolescência e relembrar as brincadeiras com os amigos da rua, o pique-esconde pelo bairro, o futebol com golzinhos de pedras no asfalto, as voltas de bicicleta, de skate, o ar livre na cara e a sensação de estar livre. Quem não morou longe dos grandes centros das cidades, quem morou fora dos bairros residenciais, vai ter dificuldades para entender as ignificações de The Suburbs, mas, para quem entende, esse CD bate aquela vontade de voltar no tempo e aproveitar com muito mais intensidade cada segundo dos anos iniciais da vida.
As músicas aqui são alegres, alto astral, e dão vontade de sair dançando e pulando pelos ares. Com as lembranças mais felizes da infância vindo à tona nos fios da nossa memória, parece que o mundo passa a fazer muito mais sentido, parece que a vida fica mais leve. É uma sensação maravilhosa estar mergulhado e entender a "vibe" dessa obra. Se você foi criança criada livre, fora de casa,se os seus melhores amigos eram as outras crianças da sua rua, se o bairro onde você morou quando criança tem, talvez, uma força na sua formação tão grande ou ainda maior que a própria casa em que você morou, então o The Suburbs é altamente recomendável para você, que, com certeza irá se deliciar com as sensações de nostalgia e de felicidade que o CD propicia.
Eu desafio qualquer pessoa a colocar os fones de ouvido e reproduzir "Rococo" ou "Sprawl II" no meio de uma praça, ou um parque, ou uma escola, algum lugar onde haja pessoas e haja crianças, e dizer que com essas músicas a vida não faz muito, muito mais sentido. The Suburbs é a trilha sonora mais adequada para qualquer dia de Sol e qualquer noite com velhos amigos.
Um aspecto sobre Arcade Fire que transcende os seus álbuns é a beleza de suas performances ao vivo, então, para fechar, deixo aqui uma pequena amostra da força magistral que a banda possui.
Avaliação:
