domingo, 24 de novembro de 2013

As Correções


"What made corrections possible also doomed it."
As Correções, do autor norte americano Jonathan Franzen, foi publicado em 2001, e no mesmo ano ganhou o National Book Award for Fiction. No ano seguinte, ganhou o James Tait Black Memorial Prize. Em 2005, foi incluído na lista da revista TIMES entre os 100 melhores romances escritos em inglês. E, além de todos essas características, é um dos meus livros preferidos.  

As palavras de Franzen em As Correções escorregam deliciosamente em frente à retina. Esse é um daqueles livros que, certamente, a gente nunca quer que acabe. Mas, isso não se deve somente ao fato de Franzen ter trocado, nesta obra, o pós-modernismo pelo realismo literário. O maior elo entre o leitor e as páginas de As Correções está no tema da obra: a vida familiar. 

O romance gira em torno da vida dos Lambert, uma família tradicional do Centro-oeste dos EUA que tenta se reunir para um último natal juntos, porém o choque de gerações e as pequenas intrigas familiares fazem dos preparativos desse último encontro algo quase insuportável. Os Lambert são: um casal de idosos, Enid e Alfred, que moram na cidade fictícia de St. Jude, e seus três filhos adultos Gary, Chip e Denise. Os filhos, por sua vez, foram morar na costa leste para tentar a vida longe da influência de seus pais. 

Alfred Lambert, o severo patriarca da família, é um engenheiro ferroviário que se aposentou quando seus filhos se mudaram de St. Jude, mas logo começou a sofrer de mal de Parkinson, o que rompeu com sua personalidade sempre reprimida e organizada. Ele raramente demonstra afeição, mas apoia sua mulher e seus filhos quando eles precisam. Eu particularmente gosto muito do Alfred. Acho que ele age dessa maneira pela forma como foi criado, e por tudo que já viveu. Às vezes ele é teimoso, mas acredito que seja para manter sua posição como patriarca da família.

Enid Lambert é a esposa leal de Alfred que sofreu a vida toda com seu comportamento tirânico, e agora está sofrendo ainda mais com sua demência que aumenta a cada dia. Além disso, Enid tenta tolerar as as escolhas que seus três filhos fizeram na vida, entre elas o abandono dos valores Protestantes. Toda família tem uma Enid. Ela é o tipo de pessoa que quer dar opinião em tudo que você faz, e te dizer pra fazer de uma forma diferente. Alguém que quer aparecer para os outros sobre tudo que a família faz ou deixa de fazer. Porém, Enid também é muito amorosa, e as vezes ela só precise de (muita!) atenção.

Gary, o filho mais velho, é um banqueiro de sucesso na Filadélfia, e, ao mesmo tempo, um pouco deprimido e alcoólatra, que tem sua vida cuidadosamente controlada por  sua esposa intolerável e manipuladora e seus três filhos. Ele parece ser um bom homem, mas, quando se trata de seus pais e irmãos ele é uma pessoa horrível.

Chip é o filho do meio, um professor universitário Marxista desempregado por causa de um envolvimento amoroso/sexual com uma de suas alunas. Chip também é o escritor de um roteiro irremediavelmente ruim, o qual ele tem esperanças de vender. Mais tarde, Chip vem a trabalhar para um chefe do crime na Lituânia, fraudando investidores americanos. Eu acho que o Chip é um cara fantástico, e acredito que em alguns aspectos ele seja alter-ego do Franzen. Há uma cena em que ele recebe os presentes de natal da família e, depois de abri-los, os joga escada abaixo. Eu gosto da maneira de o Chip ser tão instável e bagunçar as coisas quando elas poderiam ser facilmente resolvidas. Gosto também da forma como ele falha tanto em seus planos. 

Denise, a filha mais nova, é uma chefe de cozinha brilhante em um restaurante aclamado na Filadélfia, mas faz escolhas desastrosas no amor, assim como a que a fez perder o emprego por ter se relacionado tanto com seu chefe quanto com a esposa de seu chefe. Denise é bem complicada emocionalmente. Ao mesmo tempo em que parece que ela gosta muito de estar com sua família ela fica sufocada de viver em comunidade. Ela é uma pessoa muito solitária. Me pergunto se o autor usa Denise para fazer um retrato das mulheres adultas que se dão bem em seus trabalhos e são financeiramente independentes.

As vidas dos personagens principais convergem na manhã de natal de volta a St. Jude, quando Enid e os filhos são forçados a confrontar o acelerado declínio físico e mental de Alfred. 
Este livro relata quase que perfeitamente como a vida é. O melhor do livro é como o autor descreve as relações de uma família que, apesar das diferenças, sempre tem muito a ver com a do leitor. Franzen pega pequenos detalhes cotidianos e os faz enormes, assim como fazemos quando é algo relacionado a nossa vida. Ele também consegue descrever minuciosamente detalhes que muitas vezes passam despercebidos, assim como faz quando utiliza várias páginas para descreves a dificuldade de Alfred, um idoso, para se sentar em um divã. 

"What made corrections possible also doomed it." - E é isso o que acontece com tantas pessoas que tentam corrigir os erros e a vida dos outros como se isso acarretasse na correção de sua própria vida, que segue sempre 'incorreta'.

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