
"Deus é tanto mais Deus quanto mais inacessível for"
É com frases ásperas e incrivelmente cheias de significados e críticas, como essa acima, que José Saramago vai construindo e permeando o seu romance que, vá lá, narra a história da vida de Jesus de uma maneira tão inusitada como poderia ser a narração de um ateu convicto e ranzinza. Um dos seus livros mais polêmicos (quiçá o que mais causou reboliço e indgnação de muita gente), dentre uma coleção de muitos livros nada discretos ou quietos que formam a obra do autor português.
Primeiramente, antes mesmo de ir mais à fundo no livro do Saramago, é necessário (e prazeroso) entender um pouquinho mais sobre a vida e os pensamentos desse que é, na minha opinião - e na de muitos dos seus leitores - um dos maiores escritores de toda a história da Língua Portuguesa, entando no mesmo patamar que ocupa Camões, Fernando Pessoa e Machado de Assis.
Saramago, que começou a dedicar-se inteiramente e exclusivamente à escrita já na sua quinta década de vida, consolida-se no cenário da literatura internacional a partir dos seus livros cheio de opiniões, no mínimo, contrárias as da maioria. Usando simbolismos e alegorias, abusando da capacidade interpretativa de cada leitor, o autor, numa forma geral, tece duras críticas às políticas de maneira geral, mas as capitalistas principamente, condena o individualismo presente na nossa sociedade e, com um humor irônico, alfineta a Igreja Católica, sua imposição e participação dentro do mundo contemporâneo. Abertamente ateu e comunista, Saramago pode ser considerado uma das mentes mais brilhantes da literatura recente. Tanto é que, em 1998, antes mesmo de algumas de suas importantes obras, o português é agraciado com o Premio Nobel de Literatura.
Mas, ao ivro 'O Evangeho segundo Jesus Cristo':
Antes de lê-lo não havia ainda lido nada do Saramago, apenas ouvia das suas ideias e de polêmicas que criara a partir de seus ásperos artigos nos jornais e opiniões dadas em redes nacionais de televisão. Porém, ao abrir o livro, é de imediata forma que alguns aspectos chegam à atenção.
Em primeira instância, o que mais me surpreendeu na literatura saramaguiana foi a forma com que ele trabaha seus períodos e parágrafos, ou seja, a forma com que o autor utiliza a Língua Portuguesa. Ao observar isso, quaquer um é capaz de começar a entender o motivo da premiação Nobel. É lindo, impressionante, impensável aos meros mortais fazer o que o autor de 'O evangelho segundo Jesus Cristo' faz em sua obra com o nosso idioma. Verdadeiros malabares linguísticos. Apenas um período para o que outros autores utilizariam vários parágrafos, apenas um parágrafos onde outros utilizariam capítulos, e esses chegando a ocupar cinco, dez páginas. Uma pontuação bastante diferenciada da padrão, onde a vírgula substitui, em vários momentos, os pontos finais, os dois pontos, o travessão. Não há indicadores das falas das personagens, elas são intrínscecas aos parágrafos, o que cria uma fuidez de leitura e, mais semânticamente, um fluxo de consciência do narrador e até mesmo da personagem, dificultando a distinção do que é real e imaginário do que é fala e do que é pensamento. Há também, em vários momentos, diálogos com os leitores, o que dá uma impressão de maior acessibiidade e proximidade entre escritor e, nesse caso, interocutor.
Ao longo do romance, porém, é que conhecemos verdadeiramente os pensamentos de Saramago. Como um ateu convicto, o escritor não poderia tratar da pessoa de Jesus como é feito na Bíbia, atribuíndo-lhe comportamento divino e sobre-humanas capacitações. O autor, então, promove o que, na minha opinião foi a melhor sacada do livro, uma "humanisação" ou "desdeusificação" da figura de Jesus, o que, por si só, já fomenta a revolta dos critãos mais convictos. Mas, como se não bastasse, Saramago promove o mesmo processo para a própria figura divina, ou seja, ele torna "Deus" muito mais humano, uma figura cheia de ambições e egoísmos. E, para aumentar ainda mais o grau de profundidade e de polêmica no discurso, Saramago coloca o Diabo num patamar nada menor que o memso ocupado por Jesus e Deus. A partir disso, o autor, em relação à Bíbia, distorce toda a vida de Jesus, começando na sua relaçao com o pai terreno, José, passando por seu contato com Maria Madaena, modifica a parte toda da sua adolescência, e a sua vivência com os discípuos e, principalmente, com Deus. Tudo extremamente diferente do habitua.
Para fechar a sua grandiosíssima, poderosa, afiada e pretenciosa obra, Saramago utilizase de uma frase de extremo impacto, que transcede as barreiras do livro ereflete no caráter do próprio autos e na sua visão de mundo, uma frase que se refere ao próprio Deus:
"Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez"
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