''A princípio, quando a moça disse que sentia angústia, o rapaz se surpreendeu tanto que corou e mudou rapidamente de assunto para disfarçar o aceleramento do coração.
Mas há muito tempo — desde que era jovem — ele passara afoitamente do simplismo infantil de falar dos acontecimentos em termo de "coincidência". Ou melhor — evoluindo muito e não acreditando nunca mais — ele considerava a expressão "coincidência" um novo truque de palavras e um renovado ludíbrio.
Assim, engolida emocionadamente a alegria involuntária que a verdadeiramente espantosa coincidência dela também sentir angústia lhe provocara — ele se viu falando com ela na sua própria angústia, e logo com uma moça! Ele que de coração de mulher só recebera o beijo de mãe.''
Sinceramente, esse filme foi uma enorme surpresa para mim. Eu não esperava muita coisa e acho que essa "falta de expectativas" só contribuiu mais para minha impressão final. Esse trecho acima, de um conto da Clarice Lispector chamado "A Mensagem", exemplifica bem a essência da obra que irá retratar de um forma mais expansiva e agigantada, mas mesmo assim delicada e sensível, as emoções dos seres humanos. Todos nós temos algum sentimento que se expande tanto dentro de nós ao ponto de perdermos nosso controle sobre ele... É comum que isso aconteça e é comum não conseguir lidar com ele, então criamos um válvula de escape, qualquer que seja, é preciso extravasar nosso medo, amor, angústia, fúria ou qualquer outra sensação que transcenda nossa racionalidade. Dito isto, é impossível não sentir múltiplas catarses assistindo "Românticos Anônimos", porque a verossimilidade do filme é tão intensa que eu me envia chorando nos momentos de felicidade dos personagens, porque a felicidade deles é tão sofrida... Não no sentido de pisada, mas no sentindo de que eles não conseguem lidar com ela. Ambos sofrem com isso, mas tentam resistir e enfrentar seus medos. Esse filme é sobre uma linda estória de amor. É brutalmente simples, delicado e sensível, mas ao mesmo tempo inesperadamente intenso e profundo. E a música aqui é tão presente e cheia de significados que é simplesmente maravilhoso.
A estória é a seguinte, e eu copio essa resenha, porque é extremamente adequada: ''O que acontece quando um homem e uma mulher dividem uma paixão em comum? Eles se apaixonam. E é isso que acontece com Jean-René, o chefe de uma pequena fábrica de chocolate, e Angélique, uma fabricante de chocolate talentosa que ele acabou de contratar. O que ocorre quando um homem altamente emocional conhece uma mulher altamente emocional? Eles se apaixonam, e é isso que ocorre com Jean-René e Angélica que compartilham a mesma desvantagem. Mas serem patologicamente tímidos não tornar as coisas fáceis para eles. Então, se eles vão conseguir ficar juntos, unir suas solidões e viver felizes para sempre é uma questão de adivinhação.''
Eu desconhecia completamente qualquer informação em relação ao filme, nunca tinha ouvido o nome desse diretor ou assistido algum filme com esses atores. Eu nem ao menos sabia que essa era uma película francesa, mas nos primeiros minutos de "Românticos Anônimos" eu já me via encantado e apaixonado pela obra. É bem surpreendente a espontaneidade e franqueza das atuações desses atores, diga-se de passagem, lindíssimos. O roteiro é outra feliz descoberta, apesar de previsível, não deixa de ser tocante.


Jean-René, porque eles são nós mesmos; seres humanos amedrontados e cheios de inseguranças. Não deixem de assistir à esse filme, é lindo e emocionante. Nota dez para todos os aspectos do filme. Espero que vocês gostem desta obra cinematográfica tão quanto eu gostei!
Avaliação:









