terça-feira, 14 de maio de 2013

Speak Now: World Tour Live


O 'Um livro por mês' não é um espaço criado apenas para que os leitores possam fazer descobertas musicais, literárias ou cinéfilas, mas também um espaço para que os próprios mentores do blog fiquem cada vez mais a par do que acontece no mundo artístico e, dessa forma, todos, leitores e escritores, acabam por expandir seus conhecimentos, derrubando preconceitos, experimentando coisas que, sem uma mútua ajuda, não seriam tão facilmente experimentadas. (Bom, esse é um ideal objetivo, espero que esteja acontecendo... rs). Foi a partir dessa linha de raciocínio que eu (Samuel), Mateus e Carol, decidimos nos fazer recíprocos desafios musicais, no qual tínhamos que escrever sobre um artista que nós não ouvimos ou que, por motivos quaisquer, não gostamos. E, também seguindo essa lógica de objetivo do blog, eu aceitei escrever, desafiado pela Carolinda, sobre o álbum "Speak Now: World Tour Live", da Taylor Swift.

Antes de entrar criteriosamente nos méritos do álbum, eu gostaria de discutir aqui algumas polêmicas questões. Primeiramente, eu sempre ouvi falar que a Taylor Swift é considerada uma cantora "country". Por nunca ter entrado em contato, antes do desafio, com a música dessa cantora, eu achava até legal que uma música "country" estivesse finalmente permeando as bases do pop vulgarmente vendido que há tempos encabeçam as listas de músicas mais ouvidas. Depois do álbum devidamente ouvido (várias vezes) e estudado, letra a letra, canção a canção, eu realmente não encontrei um sequer indício de música country. 

Outra questão que vou deixar pairando aqui, e essa sim, de fato, muito mais polêmica, que estive escutando numa roda de conversa de um almoço em família, é o estigma das cantoras americanas, e isso em comparação com as brasileiras. Dentro da conversa eu ouvi dizer que a diferença entre as cantoras brasileiras e americanas, e também a diferença no seus respectivos poderes de influência, se deve ao fato de que as estadunidenses realmente vêm aceitando, acatando, e mais, usando para fazer dinheiro e mercado o estigma de que são completamente "vadias", e, além de acharem isso bonito, se orgulham disso. Já as brasileiras, Paula Fernandes, Ivete Sangalo e companhia, têm certa vergonha de assumirem tal posição, como se fosse a pior coisa do mundo, e, por isso, não atingem todo o seu potencial. "A Beyoncé sabe que tem um corpão, se mostra, se vende, e sente orgulho disso. A Paula Fernandes é linda de morrer, mas, ao invés de usar esse atributo, senta num banquinho e vai cantar uma música sertaneja medíocre, para pessoas medíocres. E a Ivete Sangalo? Se ela não é uma vadia, nenhuma outra mulher do mundo é. Ela deveria era assumir-se logo e deixar de ser tão chata", disse, com tais palavras, um primo meu, bastante estudado e com gosto musical respeitável. Pode parecer profundamente machista, mas faz um pouco de sentido. Não irei polemizar mais que isso, apenas deixo a questão no ar. Eu, particularmente, não acho que Beyoncé seja melhor que Paula Fernandes, muito menos que seja mais bonita ou que faça uma música melhor, mas o mundo todo acha. Bom, e o que isso tem a ver com a Taylor Santa Swift? É simples, talvez ela devesse simplesmente seguir o conselho da sua interplanetária amiga de show business e fazer algo mais ousado e menos... Bom, vamos ao álbum!

Quem, com seus 14, 15, 16, 17 anos, não teve um amorzinho de colégio? Quem não via, nos seus amorzinhos, até o tempo parar quando havia o contato, até sentia que o doce som do vento soava mais delicado quando ouvia suas vozes? Quem nunca? Que atire a primeira pedra quem realmente não tenha sentido coisas mais clichês do mundo, quem não se apaixonou uma vez e pensou que para sempre fosse! É óbvio que chega-se um momento da vida em que a própria vida resumir-se-a a ter olhos e pensamentos apenas para alguém que parece, de modo egoísta, atrair-nos toda a atenção. E sim, é nessa linha de vivência que "Speak Now: World Tour Live" trabalha. Como se no mundo houvesse apenas uma pessoa, e o amor fosse suficiente para encher todos os meandros da vida (interprete-me objetivamente. Em outros casos eu afirmaria essa mesma sentença sem pestanejar). E não é exagero. Em três músicas, sequenciais no álbum, que tive a curiosidade de contar, a palavra "you" aparece em média 40 vezes... POR MÚSICA!

Está certo que amor é matéria poética desde que o mundo é mundo, é algo que enche o espírito do homem de vida, de propósito, mas, não precisa ser tão repetitivo, como o é no álbum da Taylor Swift. As letras de cada música, e sim, eu tive o cuidado de ler uma a uma, repetidas vezes, parecem repetir-se, por vezes e mais vezes, e, acaba faixa, começa faixa, não há nada novo. São as mesmas declarações de amor que poderiam ser feitas por qualquer garotinha de quinze anos que eu conheço, sem que ela tivesse o trabalho de olhar no dicionário uma só vez para procurar combinações mais elaboradas de palavras ou expressões. Uma linguagem simples, vá lá, tem suas vantagens. Eu que nem sei inglês direito consegui entender sem qualquer dificuldade as canções, sem tradução. E eu ainda descobri que a palavra "pastel" existe na língua inglesa. Agora resta-nos descobrir quem veio primeiro: a comida ou a cor.

Ao ouvir o álbum inteiro, pela primeira vez, e por esse problema eu passo também com a já citada música sertaneja atual do nosso país, simplesmente não se nota que as músicas são diferentes. Eu ouvi as quatro primeiras músicas, no aleatório, sem perceber que não eram a mesma. Notei que se tratava de coisas distintas quando indaguei-me da possibilidade de "uma música ser tão longa", e logo descobri que o motivo era a música não ser uma, mas quatro. A simplicidade e falta de originalidade dos arranjos que, mais uma vez, não passam nem perto do "country", fazem com que o álbum não se diferencie, seja monótono, como se um marasmo fosse, nada mudando, apesar dos insistentes instrumentos dando um ritmo "animado". Claramente eu vejo que o fato do álbum ser ao vivo em muito torna as músicas mais parecidas entre si, mas, neste caso, as canções se tornaram indistinguíveis. 

Particularmente, eu até prefiro versões live. Eu acho que deixa a música mais próxima da sua raiz, de fato vê-se as habilidades vocais dos cantores, as habilidades dos instrumentistas. As músicas ficam menos carregadas, mais próximas do público e do que, penso eu, deve realmente ser, sem os milhões de recursos tecnológicos disponíveis num estúdio. Além disso, o coro das platéias sempre foi algo que me emocionou bastante, e eu penso que aos artistas deve emocionar também. E realmente existem álbuns live mundo afora que são espetaculares, inovadores, de tirar o fôlego e emocionar. Porém, o que deveria ser uma vantagem na produção de 'Speak now: world tour live' acaba incrementando as suas fraquezas. Primeiramente pelos motivos já citados, que são a impossível diferenciação das canções. Devido a quê, não consigo imaginar mas, novamente, penso que o ambiente ao vivo tenha corroborado para isso. Em segundo lugar, no álbum INTEIRINHO existe um chiado, "buzz", que vem de gritinhos histéricos do público presente no momento da gravação. Isso acaba se tornando realmente insuportável à medida que o álbum vai tocando. Não, não é um coro de vozes, é sim uma histeria generalizada que irrita muitíssimo, dificulta a experiência de escutar o CD, e, em mim, honestamente, foi capaz de causar uma dor na minha (sensível, confesso) cabeça. Em último lugar, o que fortalece a ideia de fiasco nessa gravação live acaba sendo as próprias músicas. Nada a ver com motivos externos. É realmente uma música pouca, ínfima. Letras que parecem estar em um loop, uma pobreza estética, que ficaria abaixo do nível esperado até para um adolescente que acaba de descobrir-se apaixonado pela primeira vez na vida. 

Eu reconheço, também, que um dos problemas nessa história toda sou eu. Desde há muito tempo eu, por razões diversas da vida, tento ignorar músicas que estão fazendo algum sucesso com o público geral e estão no topo das atenções da mídia. Eu sou aquele famoso "chato", rs. Por isso, eu acostumei os meus ouvidos à uma música totalmente diferente da que a Taylor Swift produz. Não sou direcionado para nada, aquela pessoa que escuta apenas rock e pensa que o resto é lixo. Eu sou apenas fechado, e disso eu sei, para as músicas ditas comerciais, e nelas não consigo ver diferença alguma. Para mim, Rihanna, Taylor Swift, Beyoncé, Restart, Lady Gaga, e afins acabam fazendo algo que não se diferencia uns dos outros, coisas profundamente iguais, pois é disso que o povo gosta, é isso que a mídia compra. Por isso tudo, novamente, parte do problema sou eu, que, acostumado com coisas "diferentes", entrei em um esperado choque quando ouvi Taylor Swift.

Foi o primeiro disco ao qual foi-me feito desafio, e eu aceitei. Não arrependo de ter passado por isso. Para mim, conhecer algo do qual eu tinha certo preconceito, é profundamente edificante. Agora, ao menos, eu tenho propriedade para falar mal. Graças a linda da Carolzinha <3

Melhor faixa: 'Drops of Jupter', que tem a poesia mais bem elaborada.

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