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“Essas coisas assustaram e o disco sumiu. E me tirou de circulação. Eu pensava que era aquele disco que ia me botar em circulação, porque era um disco foguento, cheio de malandragem” (Tom Zé, anos 2000)
Essa é minha estréia aqui no Um Livro Por Mês falando sobre discos e começo essa aventura (aventura porque música é algo que considero extremamente complexo de se analisar) já falando sobre o desafio que a mim foi imposto. Pois bem, O Samuel me desafiou no começo do mês a falar sobre um de seus discos prediletos de um artista, digamos, polêmico e, por que não, excêntrico. Antes de mais nada, chamo a atenção de vocês para a capa acima. Diferente, um pouco estranha, não? Eu peço que soltem suas respectivas imaginações e tentem imaginar o que é essa capa, do que se trata? Não falo mais nada, essa é um interpretação que eu preciso que vocês façam para provar a extravagância de Tom Zé. Ah, só mais uma coisa em relação à esse capa: ela foi considera pela Folha de S. Paulo a segunda melhor capa do século XX. E agora, mais recentemente, faz parte da exposição das 50 melhores capas de discos de todos os tempos. Se você ainda não matou a charada, tente a sorte aqui.
Antônio José Santana Martins ou Tom Zé, hoje com 76 anos, nasceu em 1936 e em 1973 lançou o disco "Todos Os Olhos" que posteriormente seria seu disco mais polêmico e um de seus principais fracassos. Lançado em tempos de extrema censura, nosso querido compositor participante da Tropicália, decidiu se arriscar e lançar um disco estranho, de uma musicalidade nada fácil de ser digerida.

"Era realmente uma quebra tão radical na obra de Tom Zé? Sim e não. Certamente os padrões de produção e arranjos ganharam uma cara mais minimalista. A estranheza sempre habitara o trabalho do baiano, mas havia sempre um refrão, um gancho de canção. Aqui o disco corta qualquer barato nesse sentido abrindo com uma base de percussão e voz em loop, com Tom Zé cantando em cima “todo compositor brasileiro é um complexado (…) ai meu Deus vai ser sério assim no inferno”, malandramente preparando o ouvinte para o bode geral das letras do LP. Uma parceria com Augusto de Campos, “Cademar”, por instantes nos lembra das pretensões tropicalistas, que naquela altura parecia bem mais distante que os curtos cinco anos que haviam se passado. Rapidamente voltamos à real com a a faixa título e grande esperança radiofônica do disco, talvez a última grande canção da carreira de Tom Zé. Debaixo de grunhidos e interjeições vocais de Tom Zé se escondia um refrão irresistível, onde Tom Zé repetidamente se desculpa por suas culpas e fraquezas nuas diante de “todos os olhos”, tanto da audiência quanto “de lá de dentro da escuridão”. Destacam-se também o ótimo samba “Augusta, Angélica e Consolação” e a releitura de “O Riso e a Faca”, de 1970. Mas a obra-prima do disco é a genial “Brigitte Bardot”, ode ao efeito do passar dos anos na atriz, que estava prestes a anunciar sua aposentadoria das telas: “Coitada da Brigitte Bardot, que era uma moça bonita, mas ela mesma não podia ser um sonho para nunca envelhecer”. A faixa tem um salto magistral onde o instrumental dá o tom para uma pergunta incômoda de Tom Zé sobre o destino da francesa se ninguém se lembrasse de lhe telefonar."
Apesar do fracasso de vendas que levou o músico a fase de ostracismo até meados da década de 90, o disco não deixa de ser maravilhoso, com arranjos bem transados e criativos, letras bem sacadas e tudo mais. Enfim, creio que seja esse o Tom Zé em seu melhor estilo.
Melhores faixas:
"Brigitte Bardot"
"Augusta, Angélica e Consolação"
"Complexo de Épico"
Avaliação:


