quarta-feira, 8 de maio de 2013

A Última Noite de Boris Grushenko



Penso que seja, talvez, uma identificação profunda, mas até hoje não vi um filme sequer do Woody Allen que eu não tenha gostado muito. Nao, não existe nenhum que eu tenha gostado "mais ou menos": de todos desse diretor que eu já vi, apesar de, confesso, não ter visto a maioria de seus filmes (por enquanto), de todos eu gostei muitíssimo. Das comédias aos dramas. E é praticamente impossível não rir nos filmes em que ele atua. A sua faceta cômica é extremamente vívida, porém, se assim cabe dizer, o humor de Woody Allen é sempre uma coisa muito discreta e não apelativa, como um humor subliminar, onde é necessário ler as entrelinhas para entender a comicidade. Já em 'A última noite de Boris Grushenko', Woody abre mão do seu humor "fino", e parte para uma comédia mais apelativa, "escrachada", por assim dizer. E, desnecessário dizer, o diretor acerta em cheio.

Porém, se se assiste a este filme na esperança de "confusões e trapalhadas", é provável que haja uma pequena decepção. O diretor, aqui, vai basear seu humor em referências do mundo das artes, e abusar de paródias e retratações errôneas de, por exemplo, cenas de alguns livros.
A estória se passa na Rússia Czarista, à época das guerras Napoleônicas, Bóris, um delicado e sentimental "jovem" russo, em busca de amor e procurando o próprio sentido da vida, questionando a inquestionável (para a época) existência de deus, é forçado a se juntar ao exército que lutará contra os franceses que invadem o país. Sem a menor habilidade para as armas, Bóris, interpretado, genialmente por Woody Allen (que parece ter o mesmo personagem em todos os filmes, mas nunca há de deixar de ser genial), tenta todo o possível para não ir à Guerra, e o roteiro se desencadeia a partir disso.
Como numa espécie de homenagem, a direção do filme faz claríssimas referências à literatura russa, principalmente a Tolstoi e Dostoevsky, retratando, inclusive, uma cena de Guerra e Paz, e, além disso, o filme tem óbvias paródias de Ingman Bergman, como a própria capa acusa a presença de 'O Sétimo Selo', e em uma cena é bastante clara a retratação de Persona, outro filme do aclamado diretor sueco.
Apesar de toda essa trama e de referências bastante "cults", o Allen não lançará mão, na maioria das vezes, do que se chama de humor inteligente. Vai brincar com a filosofia, com a literatura, até com o cinema, mas, rir em 'A última noite de Bóris Grushenko' está ao alcance de qualquer um, não apenas para quem tem contato com tantas referências e embasamentos utilizados no roteiro. Não é do típico filme de Woody Allen, esse irá causar com certeza, gargalhadas, é uma comédia muito aberta.
Um dos meus diretores favoritos, sem dúvidas. Aqui no 'Um livro por mês' ainda teremos muito mais de Woody Allen, um mestre do cinema que merece reconhecimento. De presente, abaixo, uma cena desse filme, que, aparentemente se trata de um drama, mas a atuação do personagem contraria essa expectativa, inserindo um humor vasto.


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